terça-feira, 24 de março de 2009

A impermanência de uma alma

No Combate entre você e o mundo, prefira o mundo.
Franz Kafka


Voltamos mais uma vez ao “Eu Me Lembro”, desta vez mais fundamentados após a esclarecedora palestra de Edgard Navarro na última aula. Este nos fez entender um pouco mais das raízes do filme ao contar sua trajetória. Mas quem é esse “tal” de Edgard Navarro? Cineasta baiano que iniciou sua carreira da década de 70, conhecido pela sua irreverência abriu nossas mentes para o seu mundo, a sua infância reprimida, sua adolescência e juventude marcadas pela ditadura, uma revolta reprimida, o desejo de lutar, mas como não lhe cabia a “violência armada” transferiu esse turbilhão de sentimentos, vivências e experiências para suas obras, jogando sempre “merda no ventilador”,fazendo sempre coisas que chocassem, rompendo antigos padrões e assim libertando-se dessa “violência intelectual”, salvando-se, buscando sua redenção, ou seja, como ele próprio afirma: transformando sua dor em luz, através da arte, do cinema.
Ivani nos trouxe em um dos seus comentários a seguinte questão: Com qual entendimento de tempo o filme “Eu Me Lembro” estaria vinculado? Acredito que esteja mais relacionado com o “tudo flúi” de Heráclito, ou seja, a impermanência, a mutação do homem através da sua relação com o mundo, da sua interação com esse mundo. Pois assim transcorre a obra de Edgard, as vivencias, as experiências (no sentido de a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, segundo Bondía*) o modificaram e ele ao ser modificado por esses acontecimentos, hoje “modifica” o mundo através de sua arte, arte essa manifestada de acordo com a leitura que fez de sua época, resultando aqui num filme memorialístico, marcado pela reflexão da sua vida e da sua geração.
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*BONDÍA,Jorge Larrosa .Notas sobre a experiência e o saber de experiência.

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