O Tempo.
O Tempo traz consigo as suas temporalidades. O filme, características de uma época e suas peculiaridades, ora severas, ora intrigantes, ora desafiadoras. Todos os momentos de uma trajetória marcada, assim como todas as outras, por descobertas.
Cada personagem, assim como os seres humanos do outro lado da tela, estão determinados a cumprir sua trajetória. Ao iniciar a caminhada, outros já estão no meio do caminho, e o então recém-chegado (Guiga, personagem principal da auto-narrativa*) seguirá com guias, que serão também suas referências, já inseridos em outros tempos de seus próprios itinerários.
Cenas se entrelaçam mesmo quando apresentadas em tempos, situações e personagens distintos. E o tempo, linha extensa e resistente dessa história, se mantém presente, unindo e harmonizando estas cenas.
O Protagonista narra a sua vida e as vidas que a sua encontra. Ao compartilhar experiências com essas outras vidas, Guiga autentica sua origem e define, justificando, o que lhe trouxe às conseqüências.
Tempos apresentados sequencialmente com muita similaridade épica. Traços de um percurso com características que nos remetem ao mesmo tempo da história, de fato, real.
Os encontros de vidas de várias idades nos permitem acompanhar diversas trajetórias dentro de um único contexto sócio-cultural. Contexto este onde podemos esbarrar em dores e necessidades distintas, e que nos presenteia com uma porção de tempos pessoais. Vários tempos em um tempo. E um tempo paralelo a outros tempos.
Dois Tempos:
· Pai adulto, severo. Filho adulto, vadio.
· O fim do tempo de sua mãe lhe direciona para um outro tempo.
O nosso protagonista percebe num determinado momento, que todos os tempos em que estava inserido explodem em sua memória a passar um “filme intenso”.
Todos os tempos juntos num só lugar e o ponto de observação é o mesmo baú que guardara tudo isso.
O “filme” é trazido por Guiga, ora involuntariamente, ora estimulado por componentes alucinógenos.
Brincando com o Tempo:
· Pai, num tempo bravo e soberano, noutro dependente e pacífico. Um pai que bate e esbraveja num tempo, noutro propõe pacto de não agressão, pois agora não é mais tão forte.
· Guiga, um tempo inocente, um tempo rebelde, um tempo sem rumo.
Tempos que se desencontram e divergem por conveniência, descarte, morte, não uso, mal uso.
“’Creo’ morreu durante o carnaval.”
Se um tempo acaba, outros seguem.
Tempos que se encontram e convergem através de idéias e ideais, lutas, protestos, violência.
“Ame-o ou deixe-o.”
O tempo tormenta um homem, um personagem.
Guerrilheiros lutam na guerra, neuróticos lutam contra suas próprias cabeças, tudo ao mesmo tempo. Tempos diferentes e igualmente ruins.
Ir para um tempo fugindo de outro. E no encontro que sucede:
“A alegria é a prova dos 9”
Encontro com um novo tempo para esquecer as farsas pintadas pelo antecessor:
“Aquela sim, foi a minha primeira comunhão.”
Rever-se, redescobrir-se, atentar para outros tempos inicialmente não pareceu agradável para Guiga. Foram necessários tempos de meditação.
“Conhecer-se a si mesmo foi a causa da sua desgraça.”
Tempos com os outros é aceitar o tempo dos outros, mesmo que o incomode, mesmo que não concorde. Para mudar, terá de ir para outro tempo!!!
O tempo espera:
“...Eu queria aprender guitarra, mas depois eu vejo...”
“...Mais cedo ou mais tarde você vai encontrar a esfinge...”
O Tempo tem cor, cheiro e estimula sensações. O Tempo é o quebra-cabeças, cada peça ao seu tempo.
“Um dia tudo que existe vai virar luz.”
Donos do seu Tempo ou levados pelo Tempo por não conseguir tomar posse dele? O tempo vai e volta, insiste em ficar... Nós insistimos para que ele fique ou vá.
Todas as vidas, todos os tempos.
Por fim, Guiga na roda e o Tempo em volta. Todos os tempos responsáveis pela construção de cada um de seus Tempos.
“Quando abrir os olhos, vai ficar tudo bem outra vez.”
Natureza França
29/03/2009
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“Conhecer-se a si mesmo foi a causa da sua desgraça.”
ResponderExcluirConhecer a si mesmo, sempre tem um alto preço.
Esse relato de Guiga é de auto - conhecimento. É o tempo todo assim, descoberta atrás de descoberta. Feita de diversas maneiras em vários níveis de consciência; vendo dessa forma e conhecendo o "Deus" que fez Guiga, percebo que este "Deus", está realmente caminhando para uma libertação ao mesmo modo que Guiga, evolui e transpassa a tela.
Talvez aquela angústia que passa na fala inicial sobre o filme "Eu me Lembro", seja quebrada, realmente com a realização e finalização do filme "O Homem que não Dormia".
E se esse for seu último filme, de modo algum será uma sentença, mas um Ciclo que se encerra e inicia outro.